No dia das mães, contamos como a maternidade mudou a vida dessas mulheres
*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital
Horas de trabalho de parto, sutura da cesárea, seios sangrando no início do aleitamento, noites mal dormidas… Apesar de tudo isso, nada dói tanto numa recém-mãe quanto a pressão para se mostrar uma super mulher: sorridente, politicamente correta, magra e com a autoestima lá em cima – ainda que longe dos holofotes da mídia como uma princesa, mas diante das câmeras escondidas desta sociedade que é a mais analítica de todos os tempos. E os julgamentos da maternidade, dos outros e nossos, não param quando ainda são bebês. Continuam na primeira infância, na adolescência e, posso até apostar, mesmo depois de chegarem a vida adulta.
Ser mãe é ser julgada a partir do momento em que o cordão umbilical com o seu filho é cortado. Ou antes, ao decidir a via e a forma do parto. E não é preciso ser famosa ou fazer parte da família real para entrar na berlinda. Seja Kate, Megan ou gente como a gente, questionamentos sobre o salto na saída da maternidade ou o tamanho da barriga no pós-parto serão apenas os primeiros.
O reality show que a maternidade traz é diário e contínuo. O tempo de mamada, a forma de educar, o que se posta nas mídias sociais, o quanto se gasta numa festa, o lanche que se manda para a escola, o desenvolvimento da criança em cada fase, quantas atividades extra classes ela faz, que tipo de desenho animado assiste na televisão, que roupas usa, se joga futebol ou se brinca de boneca, entre outros. Independentemente da opção que escolhemos para educar e maternar ao longo da vida, sempre, digo SEMPRE, haverá julgamento e estaremos erradas! Ou pelo excesso ou pela falta, pelo zelo ou pela superexposição, pela dor ou pelo amor.
Temos e superamos muitas dificuldades. Vivemos num tempo imediatista em que é preciso ser malabarista para dar conta de tudo: trabalho, filhos, casamento, rótulos, estresse, obrigação de agir de forma politicamente correta, educar os filhos sem falar alto, colocar o pequeno no cantinho do pensamento por segundos milimetricamente medidos, não permitir demais, não criar "na bolha", não ser amiguinho, não ser ditador de regras.
Mas a maternidade também é maravilhosa. Sim, há o quentinho de tê-los por perto, a alegria em olhar a felicidades deles com coisas simples, o amor desmedido que nos faz ir do inferno ao céu em segundos. Então, lembre-se: não existe certo ou errado na hora de criar um filho, não existe uma única fórmula ou guia que deva ser seguido. A verdade é que nenhum manual no mundo conhece a realidade de cada mãe e sua criança.
E para celebrar essa relação tão única, que nos propõe reflexões e alegrias diárias, que escolhemos algumas mulheres com histórias inspiradoras sobre a maternidade e sobre como se tornarem mães mudou a vida delas.
FORÇA PARA MUDAR
“Quando eu conto a história da Cruzando Histórias, sempre começo pela minha maternidade porque foi um divisor de águas. Eu vinha sentindo um incômodo profissional muito grande, estava desmotivada, mas sempre que falava de sair as pessoas me desencorajavam. Então, decidi colocar essa energia no sonho de ser mãe. Engravidei do Rafael em 2013. Quando eu estava para voltar da licença-maternidade, voltei a me questionar. Estava infeliz, teria que ir me arrastando para o trabalho. Lembro que eu olhei para meu filho e falei: 'Espero que, quando você crescer, possa ser quem quiser, que possa correr atrás dos seus sonhos. Eu quero que você seja livre'. Para mim, fazia muito sentido dizer isso naquele momento, porque me via obrigada a voltar para um lugar que já não gostava e que não fazia sentido para mim.
Naquela hora, imaginei que, quando ele tivesse seus 18 anos, e eu fosse repetir isso, ele falaria: "Mãe, por que você não fez isso por você? Por que não tomou as rédeas da sua vida?”. Me dei conta de que estava me deixando ser colocada num lugar que não me cabia mais. Voltei a trabalhar, mas disse a mim mesma que encontraria uma saída. Comecei a experimentar outras coisas, voltei a estudar. Foi quando eu escutei a história da Sueli no 'Jornal Nacional', sobre o desemprego dela. Ela era mãe, assim como eu, e estava passando por uma situação extremamente difícil, sendo despejada de casa, com três filhos. Eu olhei para o meu filho e disse: "Eu preciso fazer alguma coisa"
Foi a maternidade que me tocou naquele momento. Foi a sensação de "como eu vou deixar uma mulher ir para a rua com três filhos"? Foi nessa procura pela Sueli que eu comecei a escutar mulheres pelas ruas de São Paulo, já que eu não a encontrei. Nisso, conheci mulheres que estavam passando por aquela dor, entendi qual era a história delas. A Cruzando Histórias nasceu desse lugar de empatia com outras mulheres, com outras mães, por eu ser mãe. Tentando ajudar outras pessoas, me vi me ajudando e ressignificando a minha carreira e toda a minha história”. Bia Diniz, 36 anos, mãe de Rafael, de 8 anos.
Matéria publicada online na coluna Aventuras Maternas, no portal Ana Maria, em 12 de maio de 2023.
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